quinta-feira, 26 de julho de 2012

Contínuo

O amor é infindável
E se infindável é
Infindável será meu tormento
Já condenou Carlos


E condenou-me também
Com o seu amor
E de tanto desamor
Me diz amor, o que eu faço?


Religo-me
Atrás de mais um amor?
Crente que logo estará
Infindável de desamor?

Antes, o amor
Que tanto cresce
Que tanto morre
E em mim sabe renascer


Depois, me ver e viver
Com inalcançáveis 
Incalculáveis
E infindáveis


Amores e (d)esam(ores).


PiegaF

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Incúria

Todo descuido
Passagem
Todo dilúvio
Crueldade
Toda tentativa


Então vai
Destrói
Inunda
Corrói 
Naufraga

E perde-se
Com todo o tesouro
Que poderia haver ali.

PiegaF

domingo, 8 de julho de 2012

Imediato

As reações do cão, nada naturais, já avisavam ou tentavam avisar. Todo ser humano estranha, espia da janela, o socorro que vem rápido, barulhento e codificado. O riso ao primeiro "alô" do telefone caçoa,  engana o desatento que cochilava. A tentativa de fuga é vã. No primeiro sopro o alvo cai em puro súbito. Tentam reanima-lo, quinze minutos de massagens, mas a parada cardíaca foi fatal, sem mais possibilidades. Todos já possuem as informações necessárias e se reúnem em volta de uma grande caixa, onde se faz lastimável os seus pesares.  Pois agora, no subsolo, há apenas pálpebras rochas, uma face pálida e um corpo frio. Enquanto na superfície, sobrou o espanto e o choro, de quem não pode dormir eternamente.

Piegaf

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Quase um soneto

O controle remoto na mão
O tédio estampado na cara
O choro contigo no coração
O arrependimento seguro na sala.

O violão esquecido no carro
O gatilho puxado no ar
O teatro fajuto deitado no sofá
O feitiço espalhado na rua.

O fim da rima jogada na cadeira
O cochichar debruçado na varanda
O drama passeando na praça.

O infeliz, tropeçando...
Nesses versos
Inseguros no navio.

PiegaF

Fel

 Fel, o que seria o Fel? O que era o Fel? O que deveria ser, o Fel? A Moça, calada, serena, recatada,  não sabia. Suspeitava, mas temia. Preferia a duvida à decepção das grandes expectativas que alimentava. A Menina, singela, sincera, instigada, desejava  sem suavidade saber o que era o Fel. Sem medo, sem preocupação, perguntava. A Mulher, por sua vez, segura, secreta, entendida. Sabia bem o que significava o tal Fel, mas preferia não se manifestar. Pois já sentia o Fel que transcorria suas veias até o coração.
 A Moça, mais tarde, entendeu o significado de Fel. Depois de tanto ser debochada, tornou-se atormentada pelo mais rígido Fel e admirou a Menina, por conhecer o gosto do Fel e não tomar o mesmo destino da triste Mulher composta pelo mais rígido líquido Fel.

PiegaF

Luxúria

O ato felino
Felicito, feroz
Da felação, suja.

PiegaF